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segunda-feira, 18 de março de 2013

Seu Sol, Dona Lua



No começo dos anos 70 eu morava no Rio de Janeiro, e como a minha sobrinha Andrea era bem pequena, costumava leva-la ao teatro. Vimos muita coisa ruim, até que um musical escrito por André José Adler, O Jardim das Borboletas, me chamou atenção. Havia vida inteligente no tablado onde acontecia o teatro infantil.

As músicas eram de Zé Rodrix, Eduardo Souto Neto, Tavito e outros. Aquilo me animou para criar uma história e tentar transformá-la em uma peça teatral. Na época eu fazia Arquitetura no Bennett e a história foi se formando. Sem nenhuma pressa nem pressão consegui colocar o ponto final em “Seu Sol, Dona Lua”. Aí, faltava a música. Uma amiga, Ana Cristina, Anêga, era casada com Eduardo Souto, autor de uma das músicas do Jardim.

Marquei uma leitura em sua casa e o grande compositor pediu para escrever TODAS as músicas da peça. Para quem não o conhece, ele é nada menos que o autor do tema da vitória do Ayrton Senna. Músicas prontas, o que fazer? Nunca tinha produzido nada, vinte e poucos anos, e não sabia como conseguir dinheiro. Foi quando me revesti de coragem e escrevi para um ex-sócio de meu pai, Oscar Dantas de Medeiros, que depois de sua morte tinha assumido a TransZero, e falei das minhas necessidades.

A grana entrou na minha conta logo em seguida. Então, comecei a produção procurando formar a equipe, primeiro pelos atores. Zezé Motta chegou a ensaiar a Lua, mas foi convidada para fazer a Chica da Silva. Ronaldo Resedá fazia o Tempito, chegou a gravar as músicas, mas veio o convite para fazer o musical Pipin, no Canecão, estrelado por Marco Nanini. Com o Teatro da Galeria, no Flamengo, garantido e a direção de Renato Coutinho, começaram os ensaios para valer com Lígia Diniz fazendo a Lua, Nildo Parente o Tempo, Chico Ozanan o Sol e Lauro Corona encantando a todos com o Tempito, seu primeiro trabalho como ator.

Depois do Galeria, fomos para o Teatro Casa Grande, no Leblon, acontecendo, na sequencia, várias outras montagens em Recife, Porto Alegre, Niterói, Cabo Frio e outra no Rio com Jorge Fernando fazendo o Tempito. Ótimos tempos aqueles em que senti o prazer de ver uma ideia minha se materializar em tablados de teatros espalhados pelo Brasil afora. A única frustração é que esse texto continua inédito em palcos potiguares. Mas... Um dia ele estreia por aqui.


Seu Sol, Dona Lua 
de: Marcos Sá de Paula



Era uma vez... um velho Tempo que tinha sua oficina em algum lugar do céu. Era lá que ele consertava os relógios, acertava as horas e fazia com que tudo fosse sempre igual: as horas tinham 60 minutos, os dias tinham 24 horas, os anos tinham 365 dias e assim por diante.

Dava muito trabalho fazer com que nada saísse errado e como ele estava um pouco velho, cansado, resolveu que era hora de procurar um auxiliar para lhe ajudar nessas tarefas. Então, ele foi ao Orfanato do Temporal. O Orfanato do Temporal era o lugar aonde iam os novos tempos para serem educados e esperar que viessem pegá-los para continuar sua formação e ensinar um ofício.

O velho Tempo olhou, olhou, pensou, pensou, até que finalmente se decidiu por um menino com cara de inteligente e que se chamava Tempito. Tempito se despediu de seus amiguinhos e foi todo feliz com o velho Tempo para sua nova morada. Quando lá chegaram, ficou impressionado com a quantidade de relógios que existia na oficina. Era uma bagunça danada e ele logo sentiu que ia ter muito trabalho. Mas não tinha problema. Ele era muito jovem e tinha bastante disposição e, coitado do velho, já havia trabalhado muito nessa vida e merecia um pouco de descanso.

- Eu vou querer tudo muito bem arrumado e limpo. Quando quiser descansar um pouco, tem essa nuvem para você – aponta uma pequena nuvem com cara de muito confortável e continua – mas em hipótese alguma, deite-se na minha que é essa aqui – e apontou uma maior, um pouco encardida.

- Não se preocupe – disse o Tempito – eu gostei muito da minha nuvem. O que eu tenho que fazer? Posso começar?

- Lógico, foi para isso que eu te peguei. Primeiro eu quero que você tire a poeira de tudo isso aqui. Depois, aos poucos, eu vou lhe ensinar como consertar os relógios.

O Tempo sai. Na realidade, ele estava querendo descansar um pouco e foi se deitar na sua nuvem velha e encardida. O Tempito olhou para toda aquela bagunça, respirou fundo e começou o seu trabalho. Limpou, varreu, espanou, até que um pouco cansado também, sentou na sua nuvem. Nesse momento, tudo ficou colorido.

Foi quando ele notou que era o Sol que estava nascendo. Ficou admirando aquele espetáculo até que o Sol se dirigiu à oficina do Tempo em sua moto de fogo...

...
Não perca o próximo capítulo em que vai acontecer o encontro do Tempito com o Sol

4 comentários:

  1. Assistí a estreia e alguns outros espetáculos. Texto era vivo, cheio de mensagens deliciosas para as crianças. Um espetáculo lindo, com atores maravilhosos e a música muito boa. Lauro Corona estreando nos palcos e já demonstrando o astro que seria. E detalhe: os adultos adoravam ver. Levar os filhos era uma grande desculpa. Que venham outras peças de Marcos Sá de Paula.
    Lula Carvalho

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  2. Maravilhoso!!!! cheio de lindas mensagens .

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  3. Oi Marcos, adorei ver a referência do Jardim das Borboletas nas suas influências. Apenas 3 ressalvas: Tavito não compôs para o jardim, você deve estar confundindo com meu sogro Taiguara. Além de Taiguara, o jardim recebeu nesta e em outras épocas as batutas de Jorge Omar, Paulo Imperial, Carlos Imperial, Zé Rodrix, Luís Salém, Carlos Poyart e seu amigo Eduardo Souto Neto que não compôs 1, mas 3 lindas canções para a trilha do Jardim. Abraços.

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  4. Em que ano a peça foi apresentada no Casa Grande ?

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