No começo dos
anos 70 eu morava no Rio de Janeiro, e como a minha sobrinha Andrea era bem
pequena, costumava leva-la ao teatro. Vimos muita coisa ruim, até que um
musical escrito por André José Adler,
O Jardim das Borboletas, me chamou
atenção. Havia vida inteligente no tablado onde acontecia o teatro infantil.
As músicas eram
de Zé Rodrix, Eduardo Souto Neto, Tavito
e outros. Aquilo me animou para criar uma história e tentar transformá-la em
uma peça teatral. Na época eu fazia Arquitetura no Bennett e a história foi se
formando. Sem nenhuma pressa nem pressão consegui colocar o ponto final em “Seu Sol, Dona Lua”. Aí, faltava a
música. Uma amiga, Ana Cristina,
Anêga, era casada com Eduardo Souto,
autor de uma das músicas do Jardim.
Marquei uma
leitura em sua casa e o grande compositor pediu para escrever TODAS as músicas
da peça. Para quem não o conhece, ele é nada menos que o autor do tema da
vitória do Ayrton Senna. Músicas
prontas, o que fazer? Nunca tinha produzido nada, vinte e poucos anos, e não
sabia como conseguir dinheiro. Foi quando me revesti de coragem e escrevi para
um ex-sócio de meu pai, Oscar Dantas de
Medeiros, que depois de sua morte tinha assumido a TransZero, e falei das minhas necessidades.
A grana entrou na
minha conta logo em seguida. Então, comecei a produção procurando formar a
equipe, primeiro pelos atores. Zezé
Motta chegou a ensaiar a Lua, mas foi convidada para fazer a Chica da Silva. Ronaldo Resedá fazia o Tempito, chegou a gravar as músicas, mas
veio o convite para fazer o musical Pipin, no Canecão, estrelado por Marco Nanini. Com o Teatro da Galeria,
no Flamengo, garantido e a direção de Renato
Coutinho, começaram os ensaios para valer com Lígia Diniz fazendo a Lua, Nildo
Parente o Tempo, Chico Ozanan o
Sol e Lauro Corona encantando a
todos com o Tempito, seu primeiro trabalho como ator.
Depois do Galeria,
fomos para o Teatro Casa Grande, no Leblon, acontecendo, na sequencia, várias
outras montagens em Recife, Porto Alegre, Niterói, Cabo Frio e outra no Rio com
Jorge Fernando fazendo o Tempito.
Ótimos tempos aqueles em que senti o prazer de ver uma ideia minha se
materializar em tablados de teatros espalhados pelo Brasil afora. A única
frustração é que esse texto continua inédito em palcos potiguares. Mas... Um
dia ele estreia por aqui.
Seu
Sol, Dona Lua
de: Marcos Sá de Paula
Era uma vez... um
velho Tempo que tinha sua oficina em algum lugar do céu. Era lá que ele
consertava os relógios, acertava as horas e fazia com que tudo fosse sempre
igual: as horas tinham 60 minutos, os dias tinham 24 horas, os anos tinham 365
dias e assim por diante.
Dava muito
trabalho fazer com que nada saísse errado e como ele estava um pouco velho,
cansado, resolveu que era hora de procurar um auxiliar para lhe ajudar nessas
tarefas. Então, ele foi ao Orfanato do Temporal. O Orfanato do Temporal era o
lugar aonde iam os novos tempos para serem educados e esperar que viessem
pegá-los para continuar sua formação e ensinar um ofício.
O velho Tempo
olhou, olhou, pensou, pensou, até que finalmente se decidiu por um menino com
cara de inteligente e que se chamava Tempito. Tempito se despediu de seus
amiguinhos e foi todo feliz com o velho Tempo para sua nova morada. Quando lá
chegaram, ficou impressionado com a quantidade de relógios que existia na
oficina. Era uma bagunça danada e ele logo sentiu que ia ter muito trabalho.
Mas não tinha problema. Ele era muito jovem e tinha bastante disposição e,
coitado do velho, já havia trabalhado muito nessa vida e merecia um pouco de
descanso.
- Eu vou querer tudo muito bem arrumado e
limpo. Quando quiser descansar um pouco, tem essa nuvem para você – aponta uma
pequena nuvem com cara de muito confortável e continua – mas em hipótese
alguma, deite-se na minha que é essa aqui – e apontou uma maior, um pouco
encardida.
- Não se preocupe – disse o Tempito – eu
gostei muito da minha nuvem. O que eu tenho que fazer? Posso começar?
- Lógico, foi para isso que eu te peguei.
Primeiro eu quero que você tire a poeira de tudo isso aqui. Depois, aos poucos,
eu vou lhe ensinar como consertar os relógios.
O Tempo sai. Na
realidade, ele estava querendo descansar um pouco e foi se deitar na sua nuvem
velha e encardida. O Tempito olhou para toda aquela bagunça, respirou fundo e
começou o seu trabalho. Limpou, varreu, espanou, até que um pouco cansado
também, sentou na sua nuvem. Nesse momento, tudo ficou colorido.
Foi quando ele
notou que era o Sol que estava nascendo. Ficou admirando aquele espetáculo até
que o Sol se dirigiu à oficina do Tempo em sua moto de fogo...
...
Não perca o próximo capítulo em que vai acontecer o
encontro do Tempito com o Sol
Assistí a estreia e alguns outros espetáculos. Texto era vivo, cheio de mensagens deliciosas para as crianças. Um espetáculo lindo, com atores maravilhosos e a música muito boa. Lauro Corona estreando nos palcos e já demonstrando o astro que seria. E detalhe: os adultos adoravam ver. Levar os filhos era uma grande desculpa. Que venham outras peças de Marcos Sá de Paula.
ResponderExcluirLula Carvalho
Maravilhoso!!!! cheio de lindas mensagens .
ResponderExcluirOi Marcos, adorei ver a referência do Jardim das Borboletas nas suas influências. Apenas 3 ressalvas: Tavito não compôs para o jardim, você deve estar confundindo com meu sogro Taiguara. Além de Taiguara, o jardim recebeu nesta e em outras épocas as batutas de Jorge Omar, Paulo Imperial, Carlos Imperial, Zé Rodrix, Luís Salém, Carlos Poyart e seu amigo Eduardo Souto Neto que não compôs 1, mas 3 lindas canções para a trilha do Jardim. Abraços.
ResponderExcluirEm que ano a peça foi apresentada no Casa Grande ?
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