Alzira Dias de Sá, minha
avó materna, nasceu em 1900, numa localidade chamada Cacimba de Vaca, no
município de Lucrécia, no pé da serra de Martins, interior do Rio Grande do
Norte (mais precisamente na conhecida “tromba do elefante”). Casou com Aproniano, com quem teve 5 filhos: José Nilson, Maria Zuleide, Iêda, Iris
e Neide, que lhes deram 19 netos.
Não pretendo
fazer aqui uma biografia de minha avó, mas lembrar o seu humor (ou mal humor)
que sempre resultava em uma piada. Lá pelos anos 80, Armando Negreiros começou
a publicar aos domingos n’O Poti as crônicas “Poucas e boas de...”, onde o
autor escolhia um personagem, daqueles que tinham histórias que passavam de
boca em boca, de roda em roda, de tão espontâneas, às vezes parecendo que eram
inventadas. Não sei as dos outros, mas as de minha avó eram todas verdadeiras.
Ela foi a
primeira mulher a aparecer nas páginas d’O Poti aos domingos. E eram tantas
histórias que tiveram duas seções: Poucas e Boas de Alzira Sá 1 e Poucas e Boas
de Alzira Sá 2, em domingos seguidos. Lógico que a iniciativa terminou se
transformando em livro, cujo sucesso rendeu várias edições.
Uma das melhores
histórias dela não está em nenhuma das edições, além de ser uma das poucas “de
salão”. Pois é, Dona Alzira, às vezes, pegava pesado.
Estamos em São
Paulo, anos 60, quando o must era a Rua Augusta. Minha mãe e minha tia
resolveram ir num salão de beleza na famosa alameda arrumar as madeixas, e
lógico, levaram a minha avó, que estava viajando com elas, não sem antes
receber mil recomendações da minha tia para que ela não falasse besteira, que
elas iriam num salão muito chique, que ficasse calada e deixasse que ela e
Neidinha falassem por ela. Arrumaram-se e deixaram o hotel, que por sinal era
quase no mesmo quarteirão do salão.
Lá chegando, cada
uma foi atendida por uma funcionária diferente que, superdelicadas perguntavam
a cada uma o que queria fazer. Minha mãe optou por um corte Chanel, minha tia
queria apenas fazer uma escova e ajeitar as unhas, e minha avó, muda estava,
muda ficou. A moça insistindo, mas como a tinham proibido de falar... Até que
minha tia, vendo a aflição da atendente, liberou-a a dizer o que queria fazer.
- Eu quero fazer um cocó.
- Um cocó? Eu não sei o que é isso... A senhora pode me
explicar melhor?
Então ela começou
a fazer gestos com as mãos, até que a moça entendeu, e falou com ar de
superioridade:
- Minha senhora, o nome disso não é cocó não, é coque!
Quem faz cocó é galo!!!
Dona Alzira olha
para a pobre moça, coloca as mãos nos quartos, e fala em alto e bom tom para
todo mundo do salão ouvir:
- Vôtes, minha filha, só se for na sua terra, porque na
minha, galo faz co-coró-cocó!!!