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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Dona Alzira



Alzira Dias de Sá, minha avó materna, nasceu em 1900, numa localidade chamada Cacimba de Vaca, no município de Lucrécia, no pé da serra de Martins, interior do Rio Grande do Norte (mais precisamente na conhecida “tromba do elefante”). Casou com Aproniano, com quem teve 5 filhos: José Nilson, Maria Zuleide, Iêda, Iris e Neide, que lhes deram 19 netos.

Não pretendo fazer aqui uma biografia de minha avó, mas lembrar o seu humor (ou mal humor) que sempre resultava em uma piada. Lá pelos anos 80, Armando Negreiros começou a publicar aos domingos n’O Poti as crônicas “Poucas e boas de...”, onde o autor escolhia um personagem, daqueles que tinham histórias que passavam de boca em boca, de roda em roda, de tão espontâneas, às vezes parecendo que eram inventadas. Não sei as dos outros, mas as de minha avó eram todas verdadeiras.

Ela foi a primeira mulher a aparecer nas páginas d’O Poti aos domingos. E eram tantas histórias que tiveram duas seções: Poucas e Boas de Alzira Sá 1 e Poucas e Boas de Alzira Sá 2, em domingos seguidos. Lógico que a iniciativa terminou se transformando em livro, cujo sucesso rendeu várias edições.

Uma das melhores histórias dela não está em nenhuma das edições, além de ser uma das poucas “de salão”. Pois é, Dona Alzira, às vezes, pegava pesado.

Estamos em São Paulo, anos 60, quando o must era a Rua Augusta. Minha mãe e minha tia resolveram ir num salão de beleza na famosa alameda arrumar as madeixas, e lógico, levaram a minha avó, que estava viajando com elas, não sem antes receber mil recomendações da minha tia para que ela não falasse besteira, que elas iriam num salão muito chique, que ficasse calada e deixasse que ela e Neidinha falassem por ela. Arrumaram-se e deixaram o hotel, que por sinal era quase no mesmo quarteirão do salão.


Lá chegando, cada uma foi atendida por uma funcionária diferente que, superdelicadas perguntavam a cada uma o que queria fazer. Minha mãe optou por um corte Chanel, minha tia queria apenas fazer uma escova e ajeitar as unhas, e minha avó, muda estava, muda ficou. A moça insistindo, mas como a tinham proibido de falar... Até que minha tia, vendo a aflição da atendente, liberou-a a dizer o que queria fazer.

- Eu quero fazer um cocó.

- Um cocó? Eu não sei o que é isso... A senhora pode me explicar melhor?

Então ela começou a fazer gestos com as mãos, até que a moça entendeu, e falou com ar de superioridade:

- Minha senhora, o nome disso não é cocó não, é coque! Quem faz cocó é galo!!!

Dona Alzira olha para a pobre moça, coloca as mãos nos quartos, e fala em alto e bom tom para todo mundo do salão ouvir:

- Vôtes, minha filha, só se for na sua terra, porque na minha, galo faz co-coró-cocó!!!