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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Camilo Pereira de Paula - Meu pai



Como meu pai morreu muito cedo, aos 51 anos, quando eu tinha 17, a maioria de meus amigos não tiveram o prazer de conhecê-lo. Esse texto, com pequenas modificações para esse blog, foi encomendado por Jener Tinoco, da Armação Propaganda, para fazer parte de uma coletânea sobre os empreendedores potiguares já falecidos. Até hoje o livro não foi lançado, então...


Camilo Pereira de Paula nasceu em Upanema, a 30 km de Mossoró, em 16 de janeiro de 1917. Desde cedo demonstra habilidades comerciais vendendo rapadura e macambira na feira. Adolescente, vai para Mossoró morar com o tio Francisco (Chico) Paula. Um dia, ao conhecer um representante da Singer, encomenda dez máquinas de costurar.

Quando as máquinas chegam, o tio o repreende, mas ele sai de porta em porta e vende todas em tempo recorde. Por causa disso, recebe o convite para trabalhar na empresa de comércio de eletrodoméstico da família, a Paula Irmãos, onde conhece Neide, minha mãe, filha de Aproniano e Alzira Sá, nascida em Caraúbas, cujo pai havia sido prefeito nos anos 30, com quem casa em 1950.

Em 1953, já com os dois filhos homens nascidos, eu e Nilson, muda para Natal pensando em ampliar os horizontes da empresa familiar, já na qualidade de sócio. Ao chegar, em pleno verão, aluga a casa de Djalma Maranhão em Ponta Negra, enquanto arranja acomodações para a família na cidade e conclui as instalações da empresa no efervescente comercio da Ribeira, na Praça Augusto Severo, trabalhando provisoriamente na Rua Dr. Barata. Depois do veraneio, em casa de taipa, semágua corrente e luz elétrica, a família se instala na Rua Trairí, na parte denominada Cirolândia.

Em Natal nascem suas três filhas: Marília, Isabela e Daniela. Ao se estabelecer na capital do estado, com seu tino comercial aguçado e, apesar de não ter concluído o primário, mas sempre um leitor voraz, transforma a Paula Irmãos numa das empresas mais prósperas do estado, abandonando os eletrodomésticos para representar a indústria de automóvel, trator, ônibus e caminhão como a Vemag, a Toyota, a Tobatta, a Marsey Ferguson e a Mercedes Benz. Eram os anos de abertura das grandes rodovias no país e a indústria automobilística só crescia. Comerciante inovador, incentivava seus clientes a dar uma volta com o carro e levar para casa, voltando apenas no outro dia para fechar negócio, passando credibilidade e segurança ao futuro cliente. Antecipava o que hoje as concessionárias chamam de test-drive.

No começo dos anos 60, para espanto da sociedade local, ensinou a babá de seus filhos a dirigir para ajudar nas tarefas de levar para o colégio, cursos de música, línguas e treinos esportivos. Luzia, por ser negra, se tornou o assunto das rodas sociais. A “neguinha de Paulirmãos” até hoje é abordada nas ruas por pessoas que a conheceram nessa época. Apesar de fazer parte da sociedade emergente, não era chegado à badalação social, para frustração de minha mãe, furtando-lhe a oportunidade de exibir os modelos comprados no eixo Rio-São Paulo em suas viagens anuais. Em 1963, constitui com o sócio Oscar Dantas de Medeiros a Transzero, empresa que transportava em caminhões cegonha os veículos produzidos em São Bernardo do Campo, cidade sede da empresa. Por não ter tido a oportunidade de uma boa formação escolar, fez questão de colocar os filhos mais velhos para estudar em centros mais avançados. Ainda adolescentes, eu, Nilson e Marília fomos estudar em São Paulo.

Tinha uma grande visão de futuro, era adepto das novas tecnologias e adorava música, abastecendo a discoteca particular de long-plays de clássicos, de música italiana, francesa e popular brasileira da época, além de incentivar os filhos a descobrirem os novos ritmos como o Rock’n’Roll de Elvis Presley, Cely Campelo e Chuck Berry, dentre outros. Possuidor de uma saúde delicada, com uma asma adquirida já adulto, era conhecido nas rodas de amigos de finais de semana na Confeitaria Cisne, do português Olívio na Ribeira, pela sua bombinha que o auxiliava nos momentos de dificuldade respiratória.

Faleceu precocemente aos 51 anos, em sua residência da Hermes da Fonseca, de parada cardíaca no dia 7 de outubro de 1968. Dentre os muitos amigos adquiridos durante sua vida, podemos destacar Roberto Freire, Wandick Lopes, José Resende, Telmo Barreto, o cunhado José Nilson de Sá, o compadre Rafael Cabral, Álvaro de Araújo Lima (Limarujo), Aldo Barreto, os companheiros do Rotary Club (Alvamar Furtado, Solon Aranha, Eriberto Bezerra, Manoel Benício Melo) e boêmios da Ribeira velha de guerra.

Mantinha relacionamento estreito e cordial com os comerciantes da cidade: Epifânio Dias (Casa Gomes), Ednaldo Madruga de Oliveira (Tecidos Lira de Oliveira), Fuad Faraj (Óticas Brasil), Walter Pereira (Livraria Universitária), José Rachid Hassan (A Formosa Síria), José Garcia (Casa Garcia), Alcides Araújo (Casa Rio) e muitos outros.

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