Como
meu pai morreu muito cedo, aos 51 anos, quando eu tinha 17, a maioria de meus
amigos não tiveram o prazer de conhecê-lo. Esse texto, com pequenas
modificações para esse blog, foi encomendado por Jener Tinoco, da Armação
Propaganda, para fazer parte de uma coletânea sobre os empreendedores
potiguares já falecidos. Até hoje o livro não foi lançado, então...
Camilo Pereira de Paula nasceu em Upanema, a 30 km de Mossoró, em 16 de
janeiro de 1917. Desde cedo demonstra habilidades comerciais vendendo rapadura
e macambira na feira. Adolescente, vai para Mossoró morar com o tio Francisco
(Chico) Paula. Um dia, ao conhecer um representante da Singer, encomenda dez
máquinas de costurar.
Quando
as máquinas chegam, o tio o repreende, mas ele sai de porta em porta e vende
todas em tempo recorde. Por causa disso, recebe o convite para trabalhar na
empresa de comércio de eletrodoméstico da família, a Paula Irmãos, onde conhece Neide, minha mãe, filha de Aproniano e Alzira Sá, nascida em Caraúbas, cujo pai havia sido prefeito nos
anos 30, com quem casa em 1950.
Em
1953, já com os dois filhos homens nascidos, eu e Nilson, muda para Natal pensando em ampliar os horizontes da
empresa familiar, já na qualidade de sócio. Ao chegar, em pleno verão, aluga a
casa de Djalma Maranhão em Ponta
Negra, enquanto arranja acomodações para a família na cidade e conclui as
instalações da empresa no efervescente comercio da Ribeira, na Praça Augusto
Severo, trabalhando provisoriamente na Rua Dr. Barata. Depois do veraneio, em
casa de taipa, semágua corrente e luz elétrica, a família se instala na Rua
Trairí, na parte denominada Cirolândia.
Em
Natal nascem suas três filhas: Marília,
Isabela e Daniela. Ao se estabelecer na capital do estado, com seu tino
comercial aguçado e, apesar de não ter concluído o primário, mas sempre um
leitor voraz, transforma a Paula Irmãos
numa das empresas mais prósperas do estado, abandonando os eletrodomésticos
para representar a indústria de automóvel, trator, ônibus e caminhão como a
Vemag, a Toyota, a Tobatta, a Marsey Ferguson e a Mercedes Benz. Eram os anos
de abertura das grandes rodovias no país e a indústria automobilística só
crescia. Comerciante inovador, incentivava seus clientes a dar uma volta com o
carro e levar para casa, voltando apenas no outro dia para fechar negócio,
passando credibilidade e segurança ao futuro cliente. Antecipava o que hoje as
concessionárias chamam de test-drive.
No
começo dos anos 60, para espanto da sociedade local, ensinou a babá de seus
filhos a dirigir para ajudar nas tarefas de levar para o colégio, cursos de
música, línguas e treinos esportivos. Luzia,
por ser negra, se tornou o assunto das rodas sociais. A “neguinha de
Paulirmãos” até hoje é abordada nas ruas por pessoas que a conheceram nessa
época. Apesar de fazer parte da sociedade emergente, não era chegado à
badalação social, para frustração de minha mãe, furtando-lhe a oportunidade de
exibir os modelos comprados no eixo Rio-São Paulo em suas viagens anuais. Em
1963, constitui com o sócio Oscar Dantas
de Medeiros a Transzero, empresa
que transportava em caminhões cegonha os veículos produzidos em São Bernardo do
Campo, cidade sede da empresa. Por não ter tido a oportunidade de uma boa
formação escolar, fez questão de colocar os filhos mais velhos para estudar em
centros mais avançados. Ainda adolescentes, eu, Nilson e Marília fomos estudar
em São Paulo.
Tinha
uma grande visão de futuro, era adepto das novas tecnologias e adorava música,
abastecendo a discoteca particular de long-plays de clássicos, de música
italiana, francesa e popular brasileira da época, além de incentivar os filhos
a descobrirem os novos ritmos como o Rock’n’Roll de Elvis Presley, Cely Campelo
e Chuck Berry, dentre outros.
Possuidor de uma saúde delicada, com uma asma adquirida já adulto, era
conhecido nas rodas de amigos de finais de semana na Confeitaria Cisne, do
português Olívio na Ribeira, pela sua bombinha que o auxiliava nos momentos de
dificuldade respiratória.
Faleceu
precocemente aos 51 anos, em sua residência da Hermes da Fonseca, de parada
cardíaca no dia 7 de outubro de 1968. Dentre os muitos amigos adquiridos
durante sua vida, podemos destacar Roberto
Freire, Wandick Lopes, José Resende, Telmo Barreto, o cunhado José
Nilson de Sá, o compadre Rafael
Cabral, Álvaro de Araújo Lima
(Limarujo), Aldo Barreto, os
companheiros do Rotary Club (Alvamar
Furtado, Solon Aranha, Eriberto Bezerra, Manoel Benício Melo) e boêmios da Ribeira velha de guerra.
Mantinha
relacionamento estreito e cordial com os comerciantes da cidade: Epifânio Dias (Casa Gomes), Ednaldo Madruga de Oliveira (Tecidos
Lira de Oliveira), Fuad Faraj
(Óticas Brasil), Walter Pereira
(Livraria Universitária), José Rachid
Hassan (A Formosa Síria), José
Garcia (Casa Garcia), Alcides Araújo
(Casa Rio) e muitos outros.
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