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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Entrevista para a Revista Seridó S/A

O ano de 2013 promete ser o início de uma nova jornada em minha vida. E para começar, resolvi criar esse espaço, “Sadepaula – Blog”, para registrar minhas memórias, vivências, e o que acho de determinadas coisas do dia-a-dia.

Para começar, selecionei o texto abaixo que foi publicado na revista Seridó S/A na edição de junho de 2012. É a transcrição de um papo informal com o amigo Gerson Luiz.



Quase chegando aos 60, ainda é um menino travesso, desses que dão saltos mortais e vivem as angústias e alegrias, caindo, levantando e dando a volta por cima em frações, que a vida é pra ser vivida, bela, sempre bela. Marcos Sá de Paula é um ser humano extremado em tudo que faz. Se tem amor, ama. Se o contrário acontece, ele desliga o motor de sentimentos e para. Sem medo de não ser feliz. E vai em frente. Com ele, a vida tem que andar mesmo, seja no Brasil, onde nasceu, nos Estados Unidos e Espanha, onde viveu ou em Lagoa Nova, onde vai morar daqui a alguns anos. 

Idealizador de um dos projetos culturais de maior sucesso em Natal, o Som da Mata, apresentado durante anos no Parque das Dunas, sempre aos domingos com o melhor da música popular e erudita instrumental, ele agora tem o privilégio de ser um colunista de sucesso, abordando os acontecimentos sociais/culturais da cidade de Natal nas folhas do Novo Jornal. E continua inquieto, a cabeça cheia de ideias, fervilhando. Vontade de fazer algo para a valorização da cultura e da arte. E a cada dia que passa, vivendo e aprendendo a viver. Louvado seja!

1. Você faz parte de uma geração que mudou o mundo. Evidente que essas mudanças alcançaram os meninos e meninas de uma Natal ainda bucólica, recém-saída da segunda guerra mundial, mas, ao mesmo tempo sendo alcançada por uma revolução social e cultural mundial, provocada por uma juventude que não mais aceitava a vida burguesa, ajustada a padrões vigentes da época. Como era a sua vida nessa época, suas lembranças, família, estudos preliminares, diversões, viagens, etc.?
- Meu pai morreu quando eu tinha 17 anos. Na época, estudava no Mackenzie, em São Paulo. Era um período de muita efervescência política, 1968, no auge da ditadura militar. Em 69 nós voltamos para casa. Eu e meu irmão fomos estudar em Recife, no Marista, e minha irmã voltou para Natal. Começava a surgir os ideais hippies, incentivados pelos jovens americanos e ingleses que lutavam contra a guerra do Vietnam, explorando ao máximo o slogan Paz & Amor. As mulheres começaram a queimar seus sutiãs em praça pública, gritando por liberdade, contra a submissão feminina e abraçando os ideais feministas propagados por Betty Friedan em seu livro A Mística Feminina. Em Recife e nos finais de semana em Natal, via a transformação das pessoas de minha geração nas músicas que faziam sucesso e na maneira de se vestir. Depois dos Beatles e Rolling Stones, tínhamos Led Zepellin, Pink Floyd, Janis Joplin, Jimmi Hendrix, e no Brasil: Caetano, Gil, Mutantes, Novos Baianos... Não podemos reclamar da nossa base musical.

2. Sua família, em certo momento, foi morar no Rio de Janeiro, acho que na década de 70. Como você conviveu com essa fase, onde tudo era proibido, retrocesso para uma juventude que, na década passada, 60, quebrou os tabus e incentivou a participação política através das passeatas e confrontos em maio de 68. Fale dessas lembranças, da vida no Rio de Janeiro, a adaptação de uma família de Natal na Cidade (ainda) Maravilhosa, etc).
- Depois de um casamento desfeito de Marília, minha irmã, e com a impossibilidade dela ter uma vida normal em Natal, onde uma jovem desquitada com uma filha recém-nascida era reservada a clausura, numa quarta-feira de Cinzas, minha mãe reuniu os filhos e perguntou se queríamos nos mudar para o Rio de Janeiro. Com a anuência de todos, pelo menos dos mais velhos, fizemos a mudança. Chegamos na Cidade Maravilhosa em 1971, quando ela fervia com a liberdade promovida por novas ideias de comportamento. Ipanema era uma festa diária, um desbunde geral de gente bonita e disposta a quebrar todas as regras de comportamento. Nessa época vi os grandes shows, ainda em teatros pequenos, como o primeiro de Caetano quando ele voltou do exílio, o maravilhoso Gal a Todo Vapor que virou disco, Rita Lee, logo que se desligou dos Mutantes, Alceu Valença se lançando para o Brasil... E não poderia deixar de falar nos filmes Sem Destino e o documentário sobre Woodstock, que lotavam o Cine Pax, na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Os anos 70 foram deliciosos e não invejo nenhuma geração que não viveu esse período. Lógico que por estar no Rio de Janeiro, tinha mais acesso às informações, mas a revolução foi mundial. Em Natal, a Londres do Nordeste, como era chamada na época, não ficava atrás das mudanças.

3. Anos depois, novamente você se vê envolvido pela decisão da família em voltar para Natal. Como foi a experiência de voltar à vida provinciana outra vez?
- A família foi voltando aos poucos. Primeiro foi minha mãe, que voltou diante do apelo de meus avós, para morar numa Ponta Negra em que as garagens eram atrás das casas e descíamos da varanda direto na areia da praia. Tinha uma ou outra barraca que vendia cerveja, peixe frito e caranguejo. Depois vieram Nilson e Marília, meus irmãos, depois de se formarem em engenharia e economia, respectivamente. No começo dos anos 80 recebi uma proposta para trabalhar em Recife onde passei um ano e meio, aproveitando para dar uma esticadinha por Natal, quando trabalhei na empresa de Turismo do governo e abri uma boate, a Equus, para a galera GLBT, a primeira da cidade. Apenas uma irmã, Isabela, nunca voltou para morar por aqui. Há mais de 30 anos ela trabalha na TV Globo, como produtora de arte. No momento está fazendo a pré-produção do remake de Guerra dos Sexos. Dessa vez fiquei uns dois anos e meio e sempre é muito prazeroso viver em Natal, mas no final dos 80 voltei para o sul maravilha em busca de mais experiência.

4. Sua vida profissional ficou como? Sei que você foi morar nos Estados Unidos. E aí, o que ficou do Tio Sam em você? Como sobreviveu na América. Fale desse período, o que aprendeu, voltaria para os States caso tivesse oportunidade, etc.
- Profissionalmente eu sempre fui de fazer de tudo um pouco. Teatro, publicidade, cinema, produção de shows e eventos, sempre me motivaram muito. Larguei a faculdade de Arquitetura no 4º ano para me dedicar ao teatro. Na época eu tinha escrito um musical infantil em parceria com Eduardo Souto, aquele que fez o tema da vitória do Ayrton Senna. A peça chama-se Seu Sol, Dona Lua e fui montada em várias cidades pelo Brasil afora, mas ainda é inédita por essas bandas. O primeiro trabalho profissional de Lauro Corona foi nessa peça e eu brincava dizendo que ele iria sempre falar em mim, pois em geral, a primeira pergunta numa entrevista é: Como tudo começou? Outra experiência muito interessante foi o convite para dirigir o departamento cultural do Pavilhão do Brasil na EXPO’92, em Sevilha, na Espanha. Foi uma exposição mundial que duraram oito meses em 1992 e que me fez fazer amigos de todas as partes do mundo que mantenho contato até hoje. Em 99 estava decidido a voltar de vez para Natal quando um amigo de infância me convenceu a antes, dar um tempo nos EUA. Fui com grana para passar uns três meses que se transformaram em dois anos e meio, já que os trabalhos foram pintando e ganhar em dólar é uma ótima experiência. Quando já estava pensando em voltar, aconteceu o 11 de setembro e a barra pesou por lá, ficou tudo muito estranho, então resolvi que o momento havia chegado. Cheguei no final de 2001 e acredito  que daqui só saio para Lagoa Nova, quem sabe?

5. Depois dessa maratona, nova volta para Natal. Surge o Produtor Cultural, o Som da Mata. Conte como nasceu essa ideia, o sucesso, o que ficou da experiência.
- Voltei com uma mão na frente e a outra atrás. Achei que como era daqui, tinha muitos amigos bem sucedidos, seria mais fácil. Também, não sou de mendigar muito não. Passei anos com o projeto postArt que são os midia cards, ideia que trouxe dos EUA e que fez muito sucesso aqui. Fui convidado para participar do ProEco, uma extensão do Idema para desenvolver projetos especiais, um trabalho que adorei fazer. Vi crescer o Barco-Escola, a Caravana Ecológica e foi nessa época que surgiu o Som da Mata, concepção minha para ocupar o Anfiteatro Pau-brasil que o Governo do Estado tinha acabado de inaugurar no Parque das Dunas. Música instrumental de qualidade, nos finais das tardes de domingo. Pouca gente acreditava, mas bati o pé e foi o único projeto que vingou no Parque desde 2006, quando os equipamentos foram entregues. Está parado há dois anos, e não me pergunte por que, senão vou precisar não de duas páginas mas de uma revista inteira para explicar.

6 - O que falta para Natal acontecer culturalmente já que os talentos aqui brotam como xananas nas calçadas?
- Falta incentivo de quem tem dinheiro. Infelizmente não temos o mecenato espontâneo que existe nos países civilizados. Falta de talento é que não é.

7 - O que pretende fazer, sonhos ainda não realizados?
- Eu queria ter uma rádio, uma televisão, um teatro e um cinema.

8 - Como você pretende envelhecer?
- Sorrindo.

9 - O que você mudaria se pudesse, of course, em Marcos Sá?
- Eu gostaria de ser um pouco mais pé no chão. Eu acho que sonho demais...  

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