O
Sol aparece radiante e dessa vez vinha muito alegre. Quando se aproxima da
oficina do Tempo, o Tempito pergunta:
- Nossa, que cara boa! O que foi que
aconteceu? Onde está aquela tristeza que você sentia antes?
- Tempito, você nem imagina! Esta
noite tive um sonho maravilhoso. Sonhei que conhecia uma moça linda!
- Então é isso, que bom! Eu conheço
uma moça muito bonita também – falou o Tempito.
- Já está namorando nessa idade? –
debochou o Sol.
-
Ela não é minha namorada – falou irritado – e se fosse? Não existe idade para
namorar. Fique o senhor sabendo que eu já tive duas namoradas: a nuvenzinha
Consuelo, uma espanhola que tocava castanholas como ninguém e a estrelinha
Yoko, uma japonesinha que tinha os olhos assim.
– faz “olho de japonês” com os dedos.
- Não quis ofender – desculpou-se o
Sol – eu apenas pensei que você fosse muito jovem para...
- Lá vem você com essas caretices... –
falou o Tempito aborrecido.
- E onde você a conheceu? – pergunta o
Sol interessado.
- À noite. Ela só aparece à noite. É a
moça mais linda que eu conheço – disse o Tempito atiçando a curiosidade do Sol.
- Duvido que seja mais bonita do que a
do meu sonho de ontem. Nem todas as estrelas juntas chegariam a seus pés –
suspirou o Sol apaixonado.
- Eu tenho uma fotografia dela. Se
você quiser ver...
- Claro que eu quero – falou o Sol
curioso – onde está?
- Espere um pouco que eu vou pegar – o
menino sai e nesse momento entra o Tempo que para variar, estava mau
humoradíssimo e vai logo perguntando:
- Seu Sol, o senhor viu o Tempito?
Onde se meteu esse menino?
- Ele foi pegar uma coisa para me
mostrar – disse o Sol muito alegre.
- Ora, vejo que hoje está de bom
humor. Qual o motivo de tanta alegria. Posso saber?
- Velho, eu sonhei com o meu amor. Era
uma mulher linda! Quando eu descobrir quem ela é, peço-a em casamento.
O
Tempo começa a se preocupar. O que será que estava acontecendo na abóbada
celeste? Essa epidemia de amor podia ser contagiosa e ele precisava se vacinar.
Nesse momento entra o Tempito com a foto da Lua que mostra ao Sol. Quando ele
vê a foto pula e grita eufórico:
- É ela, Tempito! Não pode ser, mas é
ela! Como é o nome dela?
- Calma rapaz, o que deu em você?
Controle-se! – O Tempo olha para a foto por cima do ombro do Sol. – Ora, é a
Lua. Você nunca viu a Lua?
- A Lua! Mas é claro que é a Lua. Por
que não descobri antes? – agitado, o Sol dirige-se ao Tempito – meu pequeno
amigo, me arranje lápis e papel que eu quero fazer uma carta perguntando se ela
quer casar comigo.
O
velho Tempo começa a se desesperar:
- Espere rapaz, como você pode querer
casar com a Lua se vocês nunca se encontram. Você está maluco?
- O senhor não é o Tempo? Então é quem
vai ter que achar uma solução para este problema.
- Eu? – pega o Tempito pela orelha –
Está vendo no que você me meteu? Já estou arrependido de ter trazido você do
Orfanato do Temporal.
O
Tempito se solta das mãos do velho. Não entende por que o Tempo está tão
preocupado.
- Eu não tenho nada com isso – falou o
menino enquanto esfregava a orelha dolorida – e que é que tem de mais? Eu não
vejo nada de mais no Sol e a Lua se apaixonarem.
- Pois eu vejo muita coisa – diz o
Tempo nervoso – Eles vão me azucrinar a paciência para fazer com que eles se
encontrem. Eu não posso fazer isso. Aqui em cima, tudo tem que ser como sempre
foi: o dia é sempre dia, a noite é sempre noite. Não pode ser diferente.
O
Sol se prepara para se pôr e o Tempo se desespera. Se a Lua também amar o Sol,
ele está frito. Não que ele vá fazer alguma coisa para que esse encontro
ridículo aconteça, mas é que dois astros apaixonados vão fazer muita confusão e
assim ele não poderá continuar levando sua vidinha tranquila de sempre. Põe a
mão na cabeça e grita para o Tempito:
- Ai, minha enxaqueca! Ela ainda me
mata, um dia! Olha só o que você foi me arranjar!
- Já disse que não tenho nada com isso
– fala o Tempito – Está com dor de cabeça? Sente aqui, relaxe um pouco e curta
o pôr do Sol que com certeza ela vai passar.
- Não seja ridículo! Retrucou o velho.
O Tempito força um pouco e põe o Tempo sentado em sua nuvem, de frente ao Sol
que se põe. Ficam imóveis, observando o espetáculo que acontece no céu.
E agora? Como o velho Tempo vai
resolver esse problema?
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