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sexta-feira, 22 de março de 2013

Seu Sol, Dona Lua - Capítulo 05



Quando não tem mais nenhuma réstia de luz, o Tempito pergunta:

- Como é? Onde está sua dor de cabeça?

- Estranho, passou! – falou o Tempo, mas logo em seguida, sem dar o braço a torcer, retrucou – mas com certeza, não tem nada a ver com o pôr do Sol.

O Tempito deixou para lá. Começava a desconfiar que aquele velho era muito cabeça dura mesmo. Não ia discutir com o Tempo. Numa outra hora ele iria descobrir os benefícios que podem trazer um simples ato de admirar um pôr do Sol. A noite começa a chegar salpicando o céu de estralas. O Tempo pega sua pasta e vai consertar o Big Bem, em Londres, não sem antes fazer mil e uma recomendações ao ajudante: tirar todo o pó da oficina, dar corda nos relógios, e principalmente, não ficar de conversa mole com astros desocupados.

- Está certo – responde o Tempito – pode ir tranquilo. – O velho sai e o menino fica pensativo. Não conseguia entender como uma pessoa não saiba que o amor é a base de tudo. Estava tão distraído que nem sentiu a presença da Lua se aproximando. Como ela vê o menino um pouco triste, deduz que o Sol não queria nada com ela. A Lua era um pouco apressada em suas conclusões, fazia parte de seu temperamento, e assustando o Tempito, foi logo falando:

- Já sei, Tempito, o Sol não quer saber de mim, não é? Não se preocupe. Eu recebi um pedido de casamento do cometa Harley e acho que vou aceitar.

- Você está louca? – indignou-se o menino – você não sabe o que ele fez um ano desses? Anunciou que vinha, ficou todo mundo esperando e nada. Não deu nem as caras. Ele poderá fazer o mesmo com você. Esse cara não merece confiança. E não é o Sol que você ama?

- É, mas se com ele não acontece o mesmo, não sou eu que vou ficar correndo atrás – respondeu a Lua.

- Você está completamente enganada – disse o Tempito – eu estou triste por outra coisa. – Dá uma pausa e acrescenta malicioso – Ele até mandou uma carta para você. – e entrega a carta que estava num envelope com cores do arco-íris.

A Lua pega a carta e corre para um canto para lê-la sozinha. Nesse momento o Tempito vê que o Tempo está voltando de Londres e imediatamente vai dar corda nos relógios. Ele chega e olha tudo e como não vê nada anormal, vai fazer anotações num livro enorme que ele tinha sobre sua mesa. A Lua termina de ler e em êxtase vai até o menino e beija-o muitas vezes enquanto proclama:

- Ele também me ama, Tempito. Agora ninguém poderá fazer nada contra.

O velho fica intriga com o que está ouvindo e interrompe a brincadeira:

- Contra o que, Dona Lua? Eu posso saber o que se passa por aqui?

- O Sol me mandou uma carta marcando um encontro, velho. Ele também me ama, então vou escrever dizendo que aceito. Tempito me consiga lápis e papel...

- Um momento – interrompe o Tempo – Tempito, vá já dar um pouco de corda na Hora do Brasil, pois me falaram que ela anda um pouco atrasada e o senhor está proibido de levar alguma mensagem para o Sol. Eu quero saber como a Lua vai fazer para que ele saiba que é correspondido.

- Ah, é? – disse a Lua desafiadora – Pois fique o senhor sabendo que eu tenho meus próprios mensageiros. O Vento Sudoeste me deve um favor e disse que quando eu precisasse era só chamar que ele vinha, e é o que vou fazer agora. – Grita – Vento Sudoeste, Vento Sudoeste!

- Espere, reflita um pouco. Por que você não namora Marte, Júpiter ou outro astro que apareça à noite como você?

- Por que é o Sol que eu amo. Qual desses tem o seu calor, o seu brilho? Vento Sudoeste! – o Vento Sudoeste vem com toda a sua força, espalhando os papéis da oficina enquanto a Lua continua – Vento Sudoeste, meu amigo, vai até o Sol e acorda-o soprando em seus ouvidos que eu o amo. Diz ao Sol que o amo – a Lua vai desaparecendo devagar e o vento leva a sua voz até o Sol, que nasce naquele dia com a Lua dizendo que o ama. 

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