Quando
não tem mais nenhuma réstia de luz, o Tempito pergunta:
- Como é? Onde está sua dor de cabeça?
- Estranho, passou! – falou o Tempo,
mas logo em seguida, sem dar o braço a torcer, retrucou – mas com certeza, não
tem nada a ver com o pôr do Sol.
O
Tempito deixou para lá. Começava a desconfiar que aquele velho era muito cabeça
dura mesmo. Não ia discutir com o Tempo. Numa outra hora ele iria descobrir os
benefícios que podem trazer um simples ato de admirar um pôr do Sol. A noite
começa a chegar salpicando o céu de estralas. O Tempo pega sua pasta e vai
consertar o Big Bem, em Londres, não sem antes fazer mil e uma recomendações ao
ajudante: tirar todo o pó da oficina, dar corda nos relógios, e principalmente,
não ficar de conversa mole com astros desocupados.
- Está certo – responde o Tempito –
pode ir tranquilo. – O velho sai e o
menino fica pensativo. Não conseguia entender como uma pessoa não saiba que o
amor é a base de tudo. Estava tão distraído que nem sentiu a presença da Lua se
aproximando. Como ela vê o menino um pouco triste, deduz que o Sol não queria
nada com ela. A Lua era um pouco apressada em suas conclusões, fazia parte de
seu temperamento, e assustando o Tempito, foi logo falando:
- Já sei, Tempito, o Sol não quer
saber de mim, não é? Não se preocupe. Eu recebi um pedido de casamento do
cometa Harley e acho que vou aceitar.
- Você está louca? – indignou-se o
menino – você não sabe o que ele fez um ano desses? Anunciou que vinha, ficou
todo mundo esperando e nada. Não deu nem as caras. Ele poderá fazer o mesmo com
você. Esse cara não merece confiança. E não é o Sol que você ama?
- É, mas se com ele não acontece o
mesmo, não sou eu que vou ficar correndo atrás – respondeu a Lua.
- Você está completamente enganada –
disse o Tempito – eu estou triste por outra coisa. – Dá uma pausa e acrescenta
malicioso – Ele até mandou uma carta para você. – e entrega a carta que estava
num envelope com cores do arco-íris.
A
Lua pega a carta e corre para um canto para lê-la sozinha. Nesse momento o
Tempito vê que o Tempo está voltando de Londres e imediatamente vai dar corda
nos relógios. Ele chega e olha tudo e como não vê nada anormal, vai fazer
anotações num livro enorme que ele tinha sobre sua mesa. A Lua termina de ler e
em êxtase vai até o menino e beija-o muitas vezes enquanto proclama:
- Ele também me ama, Tempito. Agora
ninguém poderá fazer nada contra.
O
velho fica intriga com o que está ouvindo e interrompe a brincadeira:
- Contra o que, Dona Lua? Eu posso
saber o que se passa por aqui?
- O Sol me mandou uma carta marcando
um encontro, velho. Ele também me ama, então vou escrever dizendo que aceito.
Tempito me consiga lápis e papel...
- Um momento – interrompe o Tempo –
Tempito, vá já dar um pouco de corda na Hora do Brasil, pois me falaram que ela
anda um pouco atrasada e o senhor está
proibido de levar alguma mensagem para o
Sol. Eu quero saber como a Lua vai fazer para que ele saiba que é
correspondido.
- Ah, é? – disse a Lua desafiadora –
Pois fique o senhor sabendo que eu tenho meus próprios mensageiros. O Vento
Sudoeste me deve um favor e disse que quando eu precisasse era só chamar que
ele vinha, e é o que vou fazer agora. – Grita – Vento Sudoeste, Vento Sudoeste!
- Espere, reflita um pouco. Por que
você não namora Marte, Júpiter ou outro astro que apareça à noite como você?
- Por que é o Sol que eu amo. Qual
desses tem o seu calor, o seu brilho? Vento Sudoeste! – o Vento Sudoeste vem
com toda a sua força, espalhando os papéis da oficina enquanto a Lua continua –
Vento Sudoeste, meu amigo, vai até o Sol e acorda-o soprando em seus ouvidos
que eu o amo. Diz ao Sol que o amo – a Lua vai desaparecendo devagar e o vento
leva a sua voz até o Sol, que nasce naquele dia com a Lua dizendo que o ama.
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